segunda-feira, 20 de abril de 2020

O mundo com covid-19


O mundo está diferente. 

Não temos mais abraços. 

Sorrisos atrás de máscaras. 

Sem encontros ao vivo. 

Internet cheia de informações e fake news. 

Profissional essencial com medo de trabalhar, ganhando um reconhecimento que estava meio perdido. 

Busca rápida por estudos tão desvalorizados no nosso país. 

Pessoas com fome, muitas sem grana. 

Doentes perdidos e sofrendo. 

Quarentena testando psicológicos. 

Aumento na violência doméstica. 

Crise econômica em vista. 

Máscaras sendo contadas nos hospitais. 

Material faltando. 

Profissionais se mantendo presentes, mesmo com muitos doentes e afastados. 

Quantas coisas temos que parar para avaliar e refletir. 




Toda vez que saio para o plantão, faço ritual de higienização, desde a porta de casa, no plantão e quando volto. Precisei comprar meu próprio EPI. Ainda assim após o plantão, penso se posso estar com o vírus, se posso contaminar alguém ou ficar doente. Se vai ser hoje, ou amanhã. Tudo isso é possível. Todos estão em lutas variadas, cada um com um problema a resolver. Temos graus variados de saúde e força. 



Está difícil para tantos, quem está perdendo a esperança, quem está deprimido, quem está doente e isolado, quem está perdido sem saber o que fazer. Muitas mortes pelo mundo, quantas famílias destruídas. Quem está na família que perdeu alguém, não desista, não se culpa. Se cuidam, vivam o hoje, falem com as pessoas que vocês as amam. A vida é breve, não só de coronavirus morremos. Qualquer um pode pegar o vírus, o medo se instalou. Muitos profissionais de saúde doentes e muitos morrendo pelo mundo. Logo o que foi a luta, não resistiu. Difícil entender, difícil falar sobre a morte. Todos deviam refletir o que isso nos causa e como temos que viver. Faz parte da nossa existência. 


O que eu desejo é que mesmo atrás de equipamentos, máscara, óculos, touca, (na foto ainda ia por capote e luvas), mesmo com medo, ainda passar esperança aos meus pacientes e ter mais dias de vitória. Que eu possa continuar dando um conforto nessa vida breve para todos. Família, amigos, que estão distantes, obrigada por fazerem do meu mundo mais forte. Estou na luta pensando em vocês, não vamos parar de tentar. 


Por mim, por elas, por eles, por todos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Pelo dia do Médico




Rever essa foto me faz lembrar de tantas histórias nessa sala de trauma. Pode parecer estranho, mas foi um flash do momento da chegada, porque a limpeza da sala é bem rápido. Assim como o sangue é uma rotina na sala de trauma. Não importa se está de madrugada, é preciso estar atento e preparado para situações sem aviso prévio. 

Semanas, meses, anos ali me fizeram crer que o medo de perder alguém vai nos rodear, mesmo quando se tenta tudo. As vezes não existe possibilidade de reverter quadros tão graves. Podem achar que isso se acostuma, mas sofremos também. Vivemos intensamente, carregando os pacientes conosco. Uma guerra que vivemos todo dia. 

Ficamos ali imaginando: se não tivessem tantas agressões, se o motorista não estivesse bêbado, se o motoqueiro estivesse de capacete, se não tivesse reagido e baleado, ou se não existisse tanta violência? A gente assume que as perguntas vão sempre existir e que a vida realmente pode ser muito breve. 

Isso nos leva a dar mais valor a tudo que nos rodeia. Pensamento que carrego é fazer da minha existência valer a pena. Não sabemos se um dia podem ser nós médicos ali no lugar do paciente. 

Na minha área, cirurgiões vivem momentos de silêncio operando, como também momentos de gritaria, choro. Passamos da euforia para tristeza. Tristeza para euforia. Em segundos. Minutos. Pressão é o tempo todo. Não basta esse ambiente. Ainda passamos maior parte da carreira em hospital público que falta infraestrutura para um melhor atendimento, sendo real a perda de um paciente por isso. Quando é inevitável, a gente entende, mas quando são problemas sociais, políticos, econômicos, isso traz uma revolta junto. 

Fico pensando que o investimento que seria para saúde vai para o bolso de outra pessoa e essa pessoa não tem remorso, não pensa que está matando nossos pacientes? Não consigo aceitar nossa realidade da saúde, vou continuar lutando por uma saúde digna! 

Pelo dia do médico, um desabafo para todos os médicos que vivem ou viveram situações parecidas. Que não desistiram, que continuam tentando. Estamos na mesma luta e na mesma guerra! Amo o que faço, porque só pode ser amor, dinheiro não paga tudo que passei e passo 

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Valorize o que tem.



Deitado na areia da praia, dormindo, o trator passa por cima das costas dele.
É levado ao hospital com falta de ar intensa.
Teve pneumotórax traumático. 
Tórax drenado e tratado. 
Dias em observação.
Recebido alta.

Por que será que ele estava ali? Muitos com certeza pensaram.

Humildemente ele me pergunta se pode ficar mais alguns dias no hospital.
Porque não teria como ir embora.
Pergunto onde ele mora e quando poderia ir.

 Ele me conta sua história..

Ele se auto denomina gerente da barraquinha na praia.
Vende água de coco para hidratar a moçada.
Onde trabalha é onde mora.
Não teria como repousar em seu trabalho.
E concordo com ele.

Conta que sua filha que não gosta de incomodar só pode buscá-lo fim de semana.
Sua felicidade era enorme saber que passaria uma semana na casa dela.
Mas ficou preocupado com seus clientes.
Deixaria alguém bem competente e fiel no seu lugar.
Passaria lá para avisar todos.
Deixaria um recado que voltaria em breve.

Quando falava da barraquinha, tinha orgulho em seu olhar.
Contava cada detalhe com maior seriedade.
Não tinha vergonha em dizer que dormia ali porque era ali que morava.
Chegou a me chamar para conhecer seu trabalho, sua casa.
Ofereceu uma água de coco.

O que achei por um segundo que podia ser alguém sozinho e abandonado na areia.
Depois de ouvir sua historia.
Vejo um trabalhador confiante e feliz sem se afetar com o que aconteceu.

Conclusão que eu chego..
Independente do que aconteça.
Não sinta pena do que você não conseguiu na vida.
Sinta orgulho sobre o que você conquistou.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Incentivadores


Criticar dizendo que o outro não consegue ou que está fazendo errado ou o diminuindo, por mais construtiva seja a crítica, está cheio de gente assim. 

Diferente é incentivar com exemplos de vida. 

É encorajar mostrando que pode. 

É apoiar e fazer refletir na melhora, mesmo que você saiba que aquilo pode não mudar, mas continua estimulando.

Poucos são incentivadores, estimuladores e encorajadores nessa vida.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Fim da faculdade


Muitos estudantes passam por processos exaustivos quando estão para se formar na faculdade, seja uma monografia no final do semestre ou concursos públicos que vão prestar ou dúvidas sobre o futuro profissional. Ou tudo junto.

O clima é de festa também, afinal chegou o tão desejado dia de se formar e poder trabalhar naquilo que escolheu.

A questão que as dúvidas são grandes, qual destino seguir, qual area se especializar, para onde ir. Muitos se sentem perdidos.

É um momento de muita pressão, que precisa escolher rápido e fazer dar certo a escolha. Pois ninguém quer fazer uma faculdade a toa, todos querem poder exercer o que aprendeu e trabalhar. Um curso a mais, uma pós graduação, uma residência (na area médica), ou só trabalhar. 

É preciso conhecer o perfil que tem. O que gosta, o que quer do futuro, o que se sente preparado para fazer e poder dar conta. Tem gente que pensa no dinheiro, ou em ter prestígio, ou em seguir um sonho, ou se auto desafiar, ou que quer tudo isso e mais um pouco. 

Encontrar primeiro o foco. Imagina onde você quer estar daqui 10 anos... Se sabe, procura o que precisa para chegar desde de baixo até lá. Pensar pequeno para depois subir. Muitos se perdem quando já pensam por cima.

Dentro da area médica que entendo melhor, após a faculdade surge um novo "vestibular" com cursinhos preparatórios por causa do concurso para residência médica. Começam 2 anos antes, estudando e focando naquela prova. Aulas toda semana, apostilas e mais apostilas, exercícios. 

O que parece ser algo bem instrutivo já que estamos aprendendo sobre a própria area, percebo que se torna um pouco de devaneio. Situações raras, diagnósticos e tratamentos inviáveis quando pensam em saúde pública. Devaneios que a nossa realidade não permite, que nossa prática não nos oferece. 

Exigem em uma prova de concurso público para assim trabalhar nesse sistema público algo que não é oferecido para o médico, o que não faz muito sentido. Você estuda, aprende, decora tudo perfeito na teoria, mas chega na prática e se depara com algo diferente, que precisa utilizar de artificios para chegar a algum diagnóstico ou tratamento. Acredito que não faça sentido na cabeça de muitos, mas como é preciso saber para a prova, todos estudam e encaram essa diferença grande entre o mundo teórico e prático.

Não basta ter que estudar, é preciso saber fazer prova. Muitas provas possuem questões que deveriam ser anuladas, algumas até são anuladas, outras não. É preciso ter uma noção de quem fez a prova o quer que você responda ou que bibliografia usou. Para cada justificativa se baseiam em uma referência, porém nem sempre a referência citada seja a mais atual ou a mais certa. Fica a critério de quem fez o que acha mais certo.

O medo pelo novo, ou a falta de perspectiva, deixam muitos paralisados sem saber para onde seguir. O que posso dizer pela experiência que tive quando terminei a faculdade de medicina em 2014 que não existe fórmula certa, que não adianta fugir se quer crescer. É encarar e assumir que você não concorda com muita coisa mas que para chegar em algum lugar, precisa se mover. Vai precisar abdicar de prazeres de vez em quando, vai precisar ignorar injustiças ou raivas, vai precisar ouvir calado e enfrentar.

Isso não serve só para o fim da faculdade, mas para a vida. Não vejo o estresse diminuindo ou a pressão menor por ter passado para a residência médica. Novas pressões surgem. Acredito que o fim da faculdade é a ficha caindo que o amadurecimento chegou. 

Ou cresce e corre atrás.

Ou para e fica para trás.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Vamos sorrir

 


O que provoca o sorriso varia com a personalidade e a sensibilidade de cada um.
 
 
Uns preferem a alegria da adrenalina, dos esportes radicais, da corrida. Outros gostam de uma rede, um bom livro e som ambiente. Tem outros que são felizes viajando, outros que preferem a rotina. Uns amam a casa cheia, enquanto outros realmente se sentem bem sozinhos. Ou até um pouco de tudo.
 
O sorriso é muito pessoal, só você pode correr atrás e ir em busca, porque ninguém além de você sabe o que pode te fazer feliz.
 
Em tempos de facebook, instagram, snapchat, whatsapp, tinder, as pessoas tendem a forçar uma alegria em algo que vai chamar atenção e ser aprovado, ao invés de ser o que realmente as fariam sorrir por inteiro.
 
Quando falo em sorrir, não é necessariamente o sorriso visto nas fotos. É sorrir com o corpo também. É estar bem, relaxada, satisfeita e assim transbordar o sorriso por só conseguir dizer que está bem através do sorriso.
 
Prefiro acreditar que muitos sorrisos que vejo sejam isso mesmo. E se não for, acho digno um sorriso para um garçom que vem até você, ou um gari que está limpando a rua, ou vendedor da loja que você entra, ou qualquer pessoa que cordialmente você dá um sorriso.
 
Até mesmo um médico ou um paciente, por maior que seja a doença ou a situação que seja, receber com um sorriso, é mostrar que podemos achar uma leveza mesmo dentro da tristeza. Aquele sorriso de quem quer chorar é tão válido quanto, porque é demonstração de que sabe que aquilo vai passar e o sorriso vai perdurar.
 
A mídia influencia muito ditando felicidades e as pessoas concordando que é aquilo que faria feliz. Acredito que o sorriso mais puro é aquele quando tem amor junto. E amar algo dificilmente alguém vai te dizer, você vai sentir.
 
Que mais sorrisos continuem...
 
 
 

domingo, 21 de setembro de 2014

Sensibilidade

 
 

"Sabe o que eu quero de verdade? Jamais perder a sensibilidade, mesmo que as vezes ela arranhe um pouco a alma. Porque sem ela não poderia sentir a mim mesma..." Clarice Lispector



Ver ou vivenciar qualquer situação que possa tirar da própria zona de conforto é incômodo e muitos preferem não ter que sair. Não ter que pensar. Não ter que sentir.
 
 
Não condeno. Cada um busca um escape ou uma fuga que consegue encarar.
 
 
Acho muita coragem quem quer sentir, quem quer pensar, quem não foge.
 
 
Mais difícil seria se por no lugar de outra pessoa, saber o que ela sente, se nem entender os próprios sentimentos.
 
 
Não vejo a sensibilidade como fraqueza. Não vejo o choro como impotência. Vejo uma luta. Vejo uma busca, um caminho, uma profundeza.
 
 
Tentar esquecer ou principalmente ignorar, pode fazer bem. Pode ser inteligente. Pode ser saudável. Concordo, acho que estabilidade emocional é importante. Mas acredito que se entregar em algumas situações e aguçar a sensibilidade faz da fragilidade uma força.
 
 
Encarar é para os fortes.
 
 
Viver não é só para ser fácil. Não é só para ser feliz. Não é só para ser vitorioso.
 
 
Na dificuldade, na tristeza e na derrota se aprende e cresce.
 
 
Não podemos garantir o destino que cada um vai ter, mas podemos fazer da vivência uma lição. Para quem fica ou para nós mesmos.
 
 
Uma dose de sensibilidade aí?